Ao longo da história, a barba já representou poder, sabedoria
e desleixo
Homem e barba confundem-se desde que o mundo é mundo. Quando
perceberam que poderiam remover os pelos do rosto com lascas de pedra, há cerca
de 30 mil anos, os machos da espécie homo sapiens passaram a usar este hábito
para representar um sem-fim de significados ao longo da história.
Ter barba já foi moda, já foi cafona e foi moda outra vez.
Agora, os barbudos são tendência. Mas engana-se quem pensa que o rosto coberto
de pelos é simplesmente mais um vaivém do gosto masculino. A redenção da barba
diz muito sobre o homem do nosso tempo.
Dominante nas passarelas e nas campanhas das mais
prestigiadas grifes, a barba vem associada a diferentes estilos de roupas,
sapatos e acessórios. Nos tapetes vermelhos e nos demais locais de concentração
de celebridades também se percebe a presença massiva dela entre os mais belos e
bem-sucedidos homens.
Atores como Bradley Cooper, George Clooney e Brad Pitt e
jogadores de futebol como David Beckham e Gerard Piqué são alguns dos astros
que exibem ao mundo suas barbichas. No Brasil também há barbudos célebres, como
os atores Thiago Lacerda e Caio Castro, o it boy do momento.
Ligado nessa onda, o fotógrafo britânico Jonathan Daniel
Pryce andou pelas ruas de Londres fotografando homens barbudos. O trabalho deu
origem ao Tumblr 100 beards (100 barbas) e já virou até livro. Já o jornalista
britânico Ekow Eshun escreveu sobre o que chama de "Barbalândia", um
movimento que cresce entre os homens e vai além da preocupação com a moda e
beleza. Segundo ele, o retorno da barba diz muito sobre a masculinidade
contemporânea.
Em 2010, as mulheres tornaram-se maioria no mercado de
trabalho norte-americano e um artigo da revista Atlantic, denominado "O
Fim dos Homens", apontava que os papéis tradicionais dos homens dentro da
família, de provedor e chefe da casa, estavam desaparecendo. O uso da barba,
segundo Eshun, é uma forma de reação masculina diante das suas próprias
fragilidades. A "Barbalândia" seria, portanto, uma forma do homem
entrar em contato com seu lado mais primitivo e levar uma vida mais natural,
mais masculina.
Talvez a barba seja o símbolo de poder e virilidade mais
arraigado no imaginário da humanidade. No Egito Antigo, os membros mais
abastados da sociedade cultivavam os pelos faciais para demonstrar sua
superioridade. Na Grécia, os cidadãos também andavam sempre barbudos. Basta ver
as reproduções dos bustos de filósofos como Platão, Aristóteles e Sócrates.
Na civilização romana, a barba era um dos ritos de passagem
mais importantes para os homens: quando os meninos atingiam a puberdade,
raspavam todos os pelos do corpo e os ofereciam aos Deuses. Na Idade Média, os
clérigos da Igreja Católica raspavam o rosto para diferenciar-se dos religiosos
ortodoxos e judeus. No final do século 19, quando um sujeito chamado King Camp
Gillette inventou as lâminas descartáveis de barbear, rosto liso passou a ser
sinônimo de asseio e capricho.
Hoje, as motivações para o uso da barba são muitas. Ela traz
lembranças da infância, do convívio com pais e avós e do tempo em que os homens
viviam junto à natureza, pescando e acampando. Por outro lado, desperta também
a ideia de rebeldia, já que muitos roqueiros e motoqueiros exibem barba e
bigode. Em algumas religiões a barba é, ainda hoje, símbolo de status e
sabedoria.
Independentemente da motivação, o fato é que ter barba virou
mais um meio que o homem encontrou para se expressar. Os personagens desta
reportagem têm diferentes razões para cultivar as suas, mas concordam: barba é
uma das melhores imagens da masculinidade.
Podem ser muitas as explicações sociológicas e
antropológicas para o retorno da barba como uma tendência fashion e de
comportamento entre os homens contemporâneos. Um motivo principal, no entanto,
não deve ser esquecido: o gosto feminino.
Afinal, fazer sucesso com as mulheres é um desejo masculino
desde que nossa espécie começou a andar ereta. De acordo com algumas pesquisas,
deixar crescer os pelos no rosto pode ser, sim, uma boa estratégia para atrair
os olhares da mulherada.
Estudo conduzido pela University of New South Wales, na
Austrália, revelou que é mesmo dos barbudos que elas gostam mais. Fotos de 10
homens foram mostradas a 351 mulheres, que apontaram, majoritariamente, os
homens com barba de 10 dias como seus preferidos. E olhe que nem eram imagens
de barbados ilustres, unanimidades entre as mulheres, como Hugh Jackman ou Ben
Affleck.
Mas alto lá. Mulheres gostam de barba, sim, mas nada
daquelas barbas malfeitas, pelos ressecados e ásperos e formato desalinhado. Em
tempos de vaidade masculina liberada e incentivada, a barba virou mais um item
que requer cuidados e mimos por parte de seu dono. Pode ser que seja sinônimo
de virilidade e masculinidade, mas nunca pode ser sintoma de desleixo.
Aplicar shampoos suaves, condicionadores e cremes é prática
comum entre os que cuidam da barbicha com carinho.
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